quarta-feira, setembro 16, 2009

Orfeu


UM POEMA INTERMINÁVEL














Orfeu Machado de Carlos

- I –

O filho da musa Calíope
Barrou o Céu com sua canção...
Eurídice perdeu a ação,
O beija-flor parou de voar,
O selvagem perdeu o medo
E a rosa bailou... Que som ouvira!...
Era sensual o tom da lira;
— Até Apolo começou a sonhar!...

- II –

Com o mimo do pai Apolo
Perfumou a noite rosicler;
Saciou a fome da mulher,
Eurídice, na alcova quente.
Mas o sádico Aristeu
Com garras afiadas, insanas,
Queria o lugar em sua cama
Com o veneno da serpente.

- III –

Eurídice – rara beleza! –
Fugiu da cínica atenção!...
E Aristeu em perseguição
Mudou o destino da sorte;
Com seu egoísmo contumaz,
Então, era o fim das luzes;
A jovem estava entre cruzes
Caíra no mundo da morte!...

- IV –

Transtornado de tristeza
Clamava: — Eurídice, amor;
Somos um corpo, uma flor!
E assim entoou seu som divino!
Foi até ao Mundo dos Mortos,
E, com a pungência do instrumento
Comovia o firmamento;
O Rio Estige era o destino.

- V -

A lira contagiou Caronte...
...E ébrio se comoveu!
O barqueiro levou Orfeu
Ao resgate da sua amada.
O tom da lira adormeceu
Cérbero, - a fera!-, um cão
Tricéfalo – o guardião.
E entraram à busca da fada!...

- VI -

As ondas da lira flutuaram...
Brilhou a mente do condenado...
Sorriu feliz o aloprado
E a noite deixou de ser vazia...
Por que o feitiço do errante?
Na primavera verdejante?!
Nasceu outro sol naquele dia!...

- VII –

Chegou, enfim ao trono de Hades.
Irritado, o Rei dos Mortos
Quis saber: - Que trilhas tortas
O vivo tomara o domínio?!
A agonia musical de Orfeu
Fê-lo chorar gotas de ferro.
Hades se esqueceu dos berros
E se transformou em menino!

- VIII -

Perséfone, esposa de Hades
Implorou-lhe comovida:
- Deixa Orfeu seguir a vida
Eterna com o seu amor!...
Hades atendeu seu desejo:
- Eurídice irá sem demora,
Antes do raiar da aurora;
Sua rotina terá mais cor!

- IX –

Eurídice voltaria aos vivos...
Hades encontrou a solução:
Mas impôs uma condição;
Orfeu não olharia para ela
Até que visse a luz do sol.
Fora, cantava o arrebol!
A vida impunha alegria,
Voltara nova primavera!...

- X -

Orfeu partiu pela trilha
Íngreme que ia pra fora do escuro...
Morcegos voavam no obscuro,
Cantavam o canto da morte!
Orfeu tocava a sua alegria!...
Guiava Eurídice à vida...
Queria o mundo colorido;
Outra existência sem corte.



Continua... (Aguarde os próximos versos).

Um comentário:

Hugo de Oliveira disse...

No meu blog tem um texto - Monólogo de Orfeu, de Vinicius de Moraes e Antonio Carlos Jobim...narrado por Maria Bethânia...confira lá.


abraços


Hugo